Com a sua solidez defensiva longe de ser do que era, aliado a uma tremenda falta de eficácia por parte das suas estrelas, a equipa orientada por Diego Simeone pode mesmo falhar a qualificação para a Liga dos Campeões
O motor do Atlético de Madrid não está nas melhores condições e há bem pouco tempo, o Barcelona venceu-os por 4-2, e a vantagem podia ter sido ainda mais alargada, se o cartão vermelho atribuído a Dani Alves não tivesse deixado a formação de Simeone no controlo nos últimos momentos de jogo. Foi um péssimo resultado para o Atlético, que já nem sequer se encontra no top 4 da La Liga.
Perder todos os seus jogos do campeonato em dezembro prejudicou o Atlético, mas a impressionante vitória por 3-2 frente ao Valencia em janeiro parecia estar a conduzi-los de novo a bom porto. Parece, no entanto, que não foi esse o caso.
No passado, Simeone teria simplesmente como objectivo não perder. Mas a forma defensiva do clube nesta época deixou aqueles que previam solidez dos Rojiblancos com expectativas desesperadamente ultrapassadas.
O Atlético sofreu 12 golos nos seus últimos cinco jogos em todas as competições e mantiveram apenas dois registos limpos nos seus últimos 13 jogos, enquanto os seus 30 golos sofridos no La Liga esta época são o pior registo defensivo de qualquer equipa na primeira metade da tabela.
No entanto, há problemas em todo o campo, e não apenas na defesa. A assinatura do mercado de verão Rodrigo de Paul não tem rendido e apesar de ter marcado frente ao Barcelona, Luis Suárez também tem passado por uma longa “seca” de golos, sendo que também Mario Hermoso foi embaraçado por Adama Traoré.
Culpar o actual momento de forma dos jogadores não é pouco razoável, mas quase que não arranha a superfície da queda do Atlético.
“Esperamos até estarmos a perder antes de começarmos a jogar”, disse o defesa Stefan Savic. “Não sei se é algo nas nossas cabeças, mas temos de o mudar se quisermos competir na Liga dos Campeões”.
O internacional de Montenegro, cuja recente ausência de lesão também tem sido um problema para Simeone, falou recentemente sobre o momento de forma da equipa. Muitos dos problemas do Atlético parecem psicológicos, com a equipa a atravessar uma profunda crise de identidade.
Se não são a unidade defensivamente impenetrável que conquistou a La Liga em 2014 ou chegou à final da Liga dos Campeões de 2016, então o que são eles?
A mudança nas expectativas reflecte-se no seu plantel. Embora muitos ainda considerem erradamente o Atlético como uma equipa primariamente defensiva, o seu plantel de jogadores é não mostra isso, dado que eles ostentam numerosas estrelas de ataque, desde os nomes maiores como Suárez, João Félix e Antoine Griezmann, até Angel Correa, Matheus Cunha, Thomas Lemar e Yannick Carrasco.
Em comparação com as opções de ataque no Real Madrid ou Barcelona – pelo menos antes dos recentes reforços dos catalães terem chegado em janeiro – o Atlético tem a unidade ofensiva mais forte no papel.
A sua defesa, entretanto, é mais fraca do que alguma vez foi desde que Simeone tomou o comando em 2011.
“Há 10 anos que defendemos extraordinariamente bem e este ano não estamos a fazer o que costumamos fazer”, admitiu o treinador. Perder Kieran Trippier para o Newcastle em janeiro foi mais um golpe que também não contribuiu para este momento menos positivo.
A crise de identidade do Atlético faz deles uma equipa difícil de compreender. Afinal, o que é que eles querem quando jogam? Bem, também é possível que os jogadores não o compreendam totalmente. Simeone mudou frequentemente de sistema e de formação na primeira metade da época, não dando à equipa uma oportunidade de se estabelecer.
A falta de segurança de uma identidade fixa levou à desconexão e, por consequência, à perda de confiança. Esta última é uma das poucas explicações para o mau desempenho do guarda-redes Jan Oblak. A estrela eslovena foi uma das melhores do mundo até esta época e Jogador do Ano do La Liga em 2020/2021, mas a sua forma tem sido problemática.
Um factor externo que também pode estar a contribuir para o mau momento do Atlético é a mudança para o Wanda Metropolitano em 2017. O humilde mas raivoso Vicente Calderón foi uma casa gloriosa e adequada para o clube, e apesar das melhorias na capacidade e grandeza, não pode ser comparado em espírito.
O Atlético também perdeu o seu coração e alma com as partidas de Diego Godin e Gabi, uma vez que os veteranos foram uma parte fundamental da garra que a equipa de Simeone já não possuía de forma significativa. Esta garra ocasionalmente volta, como na emocionante vitória por 3-1 frente ao Porto para chegar aos oitavos de final da Liga dos Campeões, mas já não é a norma.
Com isto, a pergunta é: o que vai acontecer ao Atlético?