Já vai algum tempo desde a última vez em que Freddy Adu jogou futebol a nível profissional. Estamos a falar de cerca de 4 anos e 1 mês, para sermos exactos.
Na noite de 13 de outubro de 2018, um homem que, sozinho, catapultou o soccer para a cultura mainstream na América fez a sua última aparição pelos Las Vegas Lights e olhando para trás, Adu passou mesmo por muita coisa – alguns dizem que passou mesmo por demasiado para alguém tão jovem. Mas mesmo depois de tudo, o antigo avançado do Benfica diz que há ainda outro capítulo a escrever:
“Ainda não me reformei tecnicamente. Tirei alguns anos de folga depois de ter perdido o meu amor pelo jogo. Acreditem ou não, estou a pensar em voltar a jogar. Ainda sou suficientemente jovem”.
A vida trocou mesmo as voltas a Freddy Adu. Depois de jogar por 15 clubes em 9 países diferentes durante um período de 17 anos, ele está de volta a casa em Maryland – o local onde cresceu:
“Agora tomo conta da minha família. Muitas pessoas não sabem disto, mas a minha mãe foi operada este ano e foi bastante significativo. Eu tenho tomado conta da minha mãe”.
E Freddy deve muito à sua mãe, Emelia.
Todos os anos, os Estados Unidos concedem cerca de 50.000 vistos de residência permanente como parte do Programa de Vistos de Diversidade e, em 1997, ela foi presentada com um desses, significando que a família Adu emigraria do Gana para a cidade de Rockville, em Maryland.
Emelia iria em breve trabalhar em dois empregos a tempo inteiro para apoiar a sua família, a acordar às 5 da manhã e a trabalhar num turno de oito horas no McDonald’s, antes de fazer mais oito horas à noite num edifício de escritórios; tudo isto enquanto um jovem Freddy fazia o seu nome na equipa local Potomac Cougars, que estava incrédulo com a sua capacidade técnica.
Jim Escobar, um dos seus antigos treinadores na Potomac, estava convencido de que tinha encontrado uma joia. Arnold Tarzy, o treinador dos Cougars na altura, disse nunca ter visto um jogador como ele. De facto, depois de o ver jogar pela primeira vez, Tarzy não conseguia dormir naquela noite; tal era o seu talento.
Emelia, entretanto, protegeu o seu filho a todo o custo. Muitos clubes europeus estavam a tentar sondar, incluindo o Inter de Milão, que enviou um representante a Maryland para se encontrar com a mãe de Adu. Eles ofereceram ao adolescente um lugar na sua academia e um valor de 250.000 dólares que em breve subiu para 750.000 dólares. Mas ele não estava à venda.
No final do dia, o dinheiro não era o mais importante. Emilia estava desesperada para que o seu filho recebesse uma educação, por isso, ele fez um programa acelerado na prestigiosa Academia IMG de Bradenton, a fim de se formar cedo na escola secundária. O objectivo final era um dia torná-lo profissional enquanto terminava os seus estudos.
Ao longo do seu tempo na costa do Golfo da Florida, o valor de Freddy foi aumentando. Todos sabiam o seu nome, incluindo representantes da Nike e da Major League Soccer. Aos 13 anos de idade, assinou um contrato de patrocínio de 1 milhão de dólares com a Nike e oito meses mais tarde, aos 14 anos de idade, Freddy tornou-se o jogador mais bem pago da MLS.
Foi um acordo que fez dele um nome familiar em toda a América e fora dela. Aos CATORZE anos, foi-lhe entregue um contrato recorde de 500.000 dólares por ano na MLS – um valor que, até hoje, parece astronómico, mesmo com as quantias que se movimentam no futebol em pleno 2022.
Para acumular ainda mais pressão sobre os seus jovens ombros, Phil Knight, o presidente da Nike, disse ter a capacidade de realizar mais do que Michael Jordan, Tiger Woods ou LeBron James. Mais uma vez, Adu tinha apenas 14 anos de idade na altura.
Conseguem imaginar?
Mesmo antes de conhecer o seu ídolo, Pelé, Freddy estava a ser apelidado como o próximo Pelé; um rótulo que muitas pessoas nos seus 20 anos de idade teriam dificuldade em cumprir, para não falar de um rapaz de 14 anos que se preparava para fazer a sua estreia na MLS depois de ter sido projectado como a primeira escolha dos D.C. United no SuperDraft de 2004.
Será que ele estava a sentir a pressão?
“Na altura, acho que nem sequer o vi dessa forma”, disse Adu em entrevista. “Eu estava tão feliz por estar a jogar. Acho que na altura era apenas ingénuo. Mas eu estava tão feliz por ser um profissional naquela idade. Estava a gostar. Não pensava realmente nisso como pressão. Aquela parte inicial era apenas uma euforia, para ser honesto”.
E se as coisas até corriam bem dentro de campo, fora dele a sua vida era muito cansativa. A MLS queria que ele fosse a cara da liga, enquanto a Nike estava interessada em promover a sua marca. Em cada cidade a que ia, havia conferências de imprensa, entrevistas e longas reuniões e cumprimentos com os adeptos. Para Adu, era cansativo.
O agente da Adu na altura, Richard Motzkin, havia trazido boas notícias eventualmente. O Manchester United queria dar uma olhadela mais atenta ao rapaz de que todos falavam. Com uma mistura de excitação e nervosismo, ele fez a viagem até Carrington e passou duas semanas com os gigantes da Premier League.
Até hoje, ele minimiza o facto de se tratarem apenas de captações:
“É estranho. Toda a gente dizia captações, captações, captações, mas a forma como me foi explicado foi que não era de todo um treino de captações. Eu ia para lá para ter a oportunidade de treinar com alguns dos melhores jogadores do mundo. Eu não podia ir a captações porque tinha apenas 16 anos e já tinha assinado com o DC United. Fui contratado para a MLS a longo prazo. Portanto, a menos que a MLS estivesse pronto para me deixar ir, o que na altura não era o caso, não foram captações”.
Ainda assim, esta foi uma enorme oportunidade para Freddy demonstrar o seu talento contra alguns dos melhores jogadores do mundo, como Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney. De facto, o treinador Sir Alex Ferguson confirmou que eles iriam acompanhar o seu progresso nos próximos meses.
E eis que poucos meses depois de ter feito 18 anos, o Benfica viria bater à porta do jogador depois dele ter impressionado pelos Estados Unidos no Campeonato Mundial de Sub-20 em 2007. O emblema português conseguiu assegurar os direitos da Adu da MLS por cerca de 2 milhões de dólares e foi isto – o grande passo de que ele precisava.
Mas em breve, o maior arrependimento da carreira de Freddy Adu teria lugar. Uma mudança de empréstimo para o AS Mónaco:
“Senti que quando estive no Benfica, tive lá três treinadores diferentes no meu primeiro ano. Foi demasiado. Penso que seria melhor jogar por uma equipa diferente e esperava que isso me desse mais estabilidade. Mas afinal essa foi a decisão errada. Para mim, foi o meu maior arrependimento. Eu não era suficientemente maduro para lidar com todas as distracções na altura no Mónaco. E sofri por isso Foi basicamente o princípio de começar a ser emprestado a equipas diferentes porque não estava a jogar suficientemente bem”.
“Não censuro ninguém. Culpo-me a mim próprio porque tomei essa decisão. Eu tomei. Ninguém me obrigou a isso. Fui eu que decidi mudar-me”.
Adu esteve no Benfica por quatro anos entre 2007 e 2011, mas passaria a maior parte desse tempo emprestado no Mónaco, Belenenses, Aris FC e Caykur Rizespor na Turquia, onde marcaria 3 golos em 11 jogos. Se ele pudesse voltar atrás e mudar uma coisa, não estaria a tornar-se profissional aos 14 anos, nem a ter obrigações contratuais com a Nike e a Major League Soccer. E foram aqueles períodos de empréstimo prejudiciais no início dos seus 20 anos os responsáveis por retirarem todo o prazer de um jogo que ele outrora adorava, de acordo com o próprio.
Na década seguinte, jogaria para clubes no Brasil, Sérvia, Finlândia, Flórida e Las Vegas para tentar encontrar o seu lar para sempre. Nunca se concretizou completamente. Mas então, após um hiato de três anos, parecia ter encontrado um vislumbre de esperança quando o sueco Österlen FF, da terceira divisão, fez uma investida por ele em 2021.
Quando o acordo foi anunciado, Adu escreveu nas redes sociais: “Sentia tanto a falta deste desporto e fiquei muito feliz por ter a oportunidade de voltar a jogar, um passo de cada vez. Saltei muitos passos no passado, mas agora tenho a oportunidade de fazer as coisas bem. Estou entusiasmado e nunca estive tão pronto”.
Dois meses depois de se mudar para uma aldeia no sul da Suécia com uma população de apenas 400 pessoas, o Österlen rescindiu o contrato de Adu, sendo que ele nunca jogou um único minuto no estádio Skillinge Idrottsplats, com capacidade para 1.000 espectadores.
Um ano mais tarde e aqui estamos nós, passado um bom tempo desde o seu último jogo. Adu está “picado” para voltar e ter a sua última dança. Treinar crianças durante os últimos anos, e ver a esperança nos seus olhos, trouxe de volta a sua alegria para o jogo.
Há muitos “e se” na viagem de Freddy Adu. E se ele não aceitasse o acordo da Nike? E se ele decidisse não se tornar profissional aos 14 anos? E se ele aceitasse ir para o Inter de Milão aos 10 anos de idade? Ainda assim, ele diz que não mudava nada do que aconteceu e é justo dizer que inspirou toda uma geração a seguir os seus sonhos.