É bastante invulgar um clube conseguir vencer um título muito importante imediatamente após a venda do seu melhor jogador, mas foi isso que o Sporting conseguiu fazer na época passada.
Na sua primeira temporada sem Bruno Fernandes, que se juntou ao Manchester United em janeiro de 2020, os leões conseguiram vencer o campeonato português pela primeira vez desde 2022.
O brilhante Ruben Amorim foi legitimamente elogiado por ter conseguido tal feito, e uma das suas proezas mais notáveis foi ter descoberto um substituto perfeito para Bruno, que de facto provou ser ainda mais prolífico do que este.
Bruno Fernandes teve uma época estupenda em 2018/2019, tendo marcado 20 golos na liga, mas Pedro Goncalves superou-o ao fazer 23 golos em 2020/2021.
Apelidado de Pote, Pedro Goncalves era considerado anónimo antes de assinar pelo Sporting no verão de 2020. Ele tinha acabado de completar uma temporada a bom nível no recém-promovido Famalicão, tendo marcado 5 golos e feito 5 assistências. No entanto, pagar 6.5 milhões de euros pelos seus serviços foi na verdade considerado uma grande aposta, mas Amorim tinha um plano claro para ele.
Enquanto Pote tentava imitar os seus modelos João Moutinho e Ruben Neves, o treinador do Sporting pensou que ele deveria ser utilizado mais à frente – e isso provou ser um golpe de mestre. A sua capacidade de vir por trás e encontrar espaços na área é fenomenal e os números têm falado por si.
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— Pedro Goncalves (@Pedro70Pereira) May 12, 2021
Sendo pé direito, a verdade é que Pote também é capaz de criar ataques clínicos também com o pé esquerdo. Aqueles que testemunharam os seus jogos na sua infância não ficaram surpreendidos com este desenvolvimento, porque ele era um goleador regular quando jogava nas camadas jovens.
Ao serviço do Vidago, aos 10 anos de idade, ele marcou 72 vezes numa única época, incluindo 7 contra o seu próprio irmão André, que por acaso era guarda-redes.
Ele gostava de comer e era um pouco gordinho – daí o apelido “Pote” – mas gostava muito mais de futebol. De facto, ele cresceu literalmente em campo, porque a sua casa de família ficava situada mesmo ao lado do estádio do Vidago.
A sua mãe trabalhava no clube, sendo que cuidava do equipamento dos jogadores, e Pedro estava sempre a jogar à bola, a menos que o seu padrasto o levasse para o quartel dos bombeiros, dado que era bombeiro.
Aos 11 anos, Pote foi recomendado para a academia do Braga e teve de sair de casa para perseguir o sonho. Agostinho Oliveira, o veterano treinador que trabalhou como coordenador das camadas jovens dos bracarenses, foi quem o ajudou a progredir durante mais de 6 anos.
“Disse-lhe que não bastava ser talentoso, e ele tinha de melhorar em todos os aspectos do jogo”, recordou Oliveira numa entrevista ao Diário de Noticias. “Ele tinha muita qualidade e fazia tudo bem, mas era importante estar mais envolvido no jogo”.
O Braga via Pote principalmente como médio, mas ele não era visto com grandes olhos por outros treinadores, e não lhe foi oferecido um contrato quando Oliveira deixou o clube em 2015.
Aos 17 anos, Pote teve de encontrar um novo caminho, e Nuno Espírito Santo deu-lhe uma oportunidade de ouro no Valencia, onde treinou com jogadores como Carlos Soler e Ferran Torres. Quando Espírito Santo foi treinar o Wolves após um período bem sucedido no Porto, lembrou-se do jovem e ofereceu-lhe a oportunidade de ir para Inglaterra com uma oferta difícil de recusar.
Assim, Pote mudou-se para o seu terceiro país antes mesmo de fazer uma estreia profissional. Será que os fãs dos Wolves se lembram sequer dele? O número de jovens talentos portugueses no clube mais português de Inglaterra era enorme, e Pote juntou-se na altura ao lado de Boubacar Hanne, um ponta-de-lança que era suposto ser um grande talento. Hanne falhou e está agora no banco de Gil Vicente, mas Pote impressionou pelos sub-23 dos Wolves.
Ele treinava frequentemente com a equipa sénior, e a sua admiração por Neves e Moutinho é compreensível porque essa era a sua posição na altura. Nos jogos que fez, conseguiu encontrar a baliza 8 vezes em 35 jogos pelas reservas.
Hoje, Pote é campeão nacional e é justo dizer que há a probabilidade de o vermos nas próximas convocatórias de Portugal.
Conhecias o seu percurso?